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Dia Mundial da Saúde Oral

Mar 20, 2021 | Saúde | 0 comments

Hoje é o Dia Mundial da Saúde Oral e é muito importante reforçar a ideia de que sem saúde oral não existe saúde geral!

Toda a nossa vida, energia, boa disposição, desenvolvimento fisico, emocional, intelectual e social, estão diretamente relacionados com a nossa capacidade de nos alimentarmos corretamente e para que isso aconteça é imprescindível zelar pela saúde oral e em particular pela saúde dentária.

Como médica dentista que acompanha crianças e adolescentes há 21 anos na minha prática clínica diária, reconheço que o investimento numa boa saúde oral nestas idades, bem como o estreitar de uma excelente relação de confiança entre o médico dentista e a criança, é um fator decisivo para um crescimento saudável e para uma saúde geral equilibrada. 

Por regra, os bebés nascem sem dentinhos e a sua alimentação nos primeiros meses de vida será em exclusivo feita com leite (preferencialmente o leite materno), mas não se pense que por não terem dentes não existem regras de higiene oral!

  • Até aos 6 meses os papás devem higienizar as gengivas dos seus bebés com uma gaze/compressa humedecida com água. Oferecer água com frequência também é uma boa estratégia, não só porque é importante para a boa hidratação do bebé, mas porque ajuda a manter a boca mais limpa.
  • A partir da erupção dos primeiros dentes podem adquirir nas farmácias umas dedeiras em silicone que vão facilitar a remoção dos resíduos e bactérias dos dentinhos que começaram entretanto a aparecer.

Nesta altura é natural que as crianças estejam um pouco mais “rabujentas” e cheguem mesmo a ter algumas febrículas, afinal a erupção dos dentes em muitas delas está associada a uma ligeira inflamação gengival que as faz levar à boca tudo o que apanham para coçar as gengivas e sentir algum alívio. Nesta fase pode ser bastante útil oferecer mordedores de silicone ou borracha, aptos a este efeito e que são normalmente arrefecidos no frigorifico. Também pode ser útil o uso de geles gengivais que se encontram com facilidade nas farmácias.

À medida que mais dentes vão erupcionando e que a alimentação vai sendo diversificada, em particular com a introdução de sólidos, os papás podem fazer a transição para a escovagem dos dentes dos seus filhos.

As escovas a adquirir devem ser adaptadas à fase de desenvolvimento da criança e as cerdas (pêlos das escovas) devem ser macias.

  • Até aos dois anos – O uso dos dentífricos não é normalmente essencial, no entanto, se houver risco de cárie pode ser importante introduzir uma pasta com 250 ppm de flúor, mas este critério deve ser conversado com o dentista para que ele possa indicar se existe essa necessidade.
  • Entre os 2 e os 6 anos – Quando os mais pequenos já têm mais de 24 meses, mas ainda não atingiram os 6 anos de idade, a concentração de flúor indicada nas pastas de dentes é de cerca de 450 ppm.
  • Entre os 6 e os 10 anos – Para crianças com mais de 6 anos, mas que ainda não têm 10 anos de idade, a indicação geral dos médicos dentistas aponta para uma concentração de flúor de 800 ou 850 ppm.
  • A partir dos 10 anos – Para crianças com mais de 10 anos, jovens e adultos, o conselho passa pela utilização de pastas de flúor com uma concentração de 1250 ppm. 

Durante todo o desenvolvimento dentário é fundamental estabelecer uma relação de proximidade e confiança com o médico dentista, afinal será com ele que a criança terá de fazer os primeiros tratamentos caso surjam alguns problemas como cáries dentárias ou fraturas que possam resultar de traumatismos, muito frequentes na primeira infância (resultantes de brincadeiras, acidentes ou quedas) e será com ele que serão definidos os cuidados mais adequados a cada uma delas. Uma intervenção precoce, caso se detectem cáries, fraturas dentárias, problemas gengivais ou desarmonias do crescimento facial, é desejável para minimizar os danos que podem ser associados quando não se reparam os problemas o mais cedo possível.

A intervenção do dentista é desejável que seja meramente profilática, estabelecendo e ensinando regras de higiene oral, monitorizado com frequência (de 6 em 6 meses caso não se verifique risco aumentado de cárie, de contrário essas visitas deverão acontecer de 3 em 3 meses) a sua eficácia e acompanhando o crescimento dentário e facial.

Mas para que isso seja possível o trabalho de casa começa desde o primeiro dia, a partir do qual os pais devem sentir-se responsáveis por criar rotinas em relação à higiene oral dos seus filhos.

Até que a criança tenha destreza motora cabe aos pais garantir a sua boa higiene oral (língua e dentes) e há medida que a criança vai adquirindo mais autonomia pode a criança participar da sua própria escovagem mas sempre com a supervisão dos pais. Só a partir dos 8 anos a criança estará apta para ficar mais independente no que toca à sua higiene oral.

A escovagem deve ser feita pelo menos duas vezes por dia, durante cerca de dois minutos, sendo que a escovagem da noite é obrigatória!

A partir dos dois anos o uso dos biberons deve ser completamente abolida e a criança deve começar a beber por copinho (existe para esta fase de transição copos que têm um bebedor adaptado que vai facilitar a aprendizagem).

Treinar as crianças para abandonar o hábito de comer na cama, já depois de ter feito higiene oral pode não ser tarefa fácil, mas é fundamental!

Logo após cada refeição, a placa bacteriana produzida (os restos das comidas, nomeadamente do leite e das papas, misturadas com a saliva e as bactérias presentes na nossa boca) começa a fermentar, originando ácidos que em contacto com os dentes leva ao aparecimento de cáries, daí ser tão importante garantir uma boa higiene oral e reduzir o risco de ataque ácido.

Uma criança que tenha o hábito de comer na cama, mesmo que seja apenas leite (a lactose, o açúcar natural que faz parte do leite, é igualmente um açúcar capaz de desenvolver cáries), vai criar as condições ideais para a formação de um ambiente bacteriano propício ao aparecimento de cáries dentárias.

A chucha e o hábito de sucção do dedo (um desafio bem maior), caso exista, devem também ser completamente retirados até aos três anos, para não comprometer a harmonia do desenvolvimento dentário e esquelético.

O mau desenvolvimento dentário ou das estruturas esqueléticas da face (nomeadamente dos maxilares superior e inferior) podem estar relacionados, sendo que o diagnóstico precoce de qualquer desarmonia irá permitir intervir mais cedo e minimizar os riscos associados.

A partir dos 6 anos, em média, inicia-se a transição da dentição de leite para a dentição definitiva. Na dentição de leite a criança terá 20 dentes no total (10 dentes no maxilar superior e 10 dentes no maxilar inferior) e na definitiva, até aos 13 anos, terá 28 dentes (14 no maxilar superior e 14 no maxilar inferior). Algumas crianças poderão vir a ter dentes do siso que podem erupcionar por volta dos 16-18 anos.

A implementação de um plano de acção de cuidados prestados pelo dentista, nomeadamente as consultas de higiene oral, aplicação de selantes ou suplementação de flúor (caso haja indicação), tratamento de cáries primárias e adaptação de aparelhos de correcção ortognática ou dentários, podem fazer a diferença mais tarde na saúde oral dos nossos filhos.

Os dentes são fundamentais para a mastigação, para o crescimento esquelético facial e são igualmente essenciais para a função fonética e estética, o que é determinante para o desenvolvimento fisico, intelectual e social das crianças, por isso a saúde oral não deve em momento nenhum ser colocada em segundo plano.

Dra. Cristina da Costa

Médica Dentista