Brincar na (com a) natureza?

Este tempo de confinamento ajuda-nos a perceber melhor a importância das crianças brincarem.
Brincar na rua, no parque, no quintal, na aldeia, na natureza… brincar com os pais, com os amigos, sozinhas…
De que forma pode a criança brincar? Abandonar o sofá, a segurança das nossas casas, o computador, a televisão.
Vamos devolver a possibilidade de tempo e espaço para brincar, aumentando o tempo de ser ativo, da brincadeira sem formação ou com calendário a cumprir. Estamos obrigados a sair com as nossas crianças, em segurança, para a rua e assim tratar da saúde física e mental. Criar contextos ao ar livre e tomar o exterior como um espaço de autonomia, mobilidade, risco, cooperação.
A realidade dos avós das atuais crianças caracterizava-se em grande parte pelas oportunidades diversas para brincar ao ar livre. Progressivamente tudo isso se foi reduzindo e atualmente a brincadeira das nossas crianças, nas cidades, situa-se praticamente em ambiente “caseiro”, sob a vigilância de um qualquer adulto.
Na natureza, a perceção do tempo da criança muda. O espaço aberto, com áreas novas, propiciadora de novas relações, de criatividade, oferecendo às crianças novos desafios, possibilitando novos jogos, de descoberta e sobretudo promovendo um melhor e natural desenvolvimento neuro-psicológico e respeitador do ambiente.
A nossa experiência diz-nos que a utilização do espaço natural é extremamente rica em estímulos para a criança. O tempo para brincar ao ar livre é essencial para a sua saúde mental, sendo nos momentos de tensão, como o que estamos a viver, ainda mais importante. A brincadeira livre, sem elementos estruturantes ou materiais pensados pelo adulto, ou de certa forma estilizados, como são os nossos parques infantis, constitui uma forma importante para a criança se libertar, devendo por isso ser privilegiada mais do que nunca.
O bem-estar que a proximidade com a natureza nos proporciona tem efeitos diretos na saúde. O vento, o frio, o calor, a água, as folhas, os troncos, todos eles desencadeiam sensações físicas e emocionais positivas. As crianças tendem a uma certa autorregulação, se têm frio, se têm calor, vestir um casaco, tirar a camisola, se está a chover, etc.
O exterior, a natureza, proporciona um crescimento pessoal e emocional mais harmonioso, através da sua experimentação, descoberta e da necessária interação.
Brincar ao ar livre reforça o sentimento de pertença, incentiva a criação de laços entre pessoas, potenciando a participação mais ativa de cada um na comunidade da qual faz parte. Potencia nas crianças uma maior compreensão pela natureza e, por isso, tendem a respeitá-la e a proteger o meio ambiente e o sistema natural. Experiências que irão manter ao longo da sua vida.
A capacidade de adaptação e resiliência, de respeito, de compreensão, de criatividade, são algumas das competências potenciadas do brincar no exterior. Potencia experiências e dá-lhe ferramentas para, no futuro, lidar com situações inesperadas. Correr riscos, enfrentar conflitos enquanto se brinca promove-se um adulto mais confiante, resiliente e criativo.
Viver a natureza, o meio ambiental, constitui um aspeto fundamental do crescimento. Cabendo também à comunidade educativa a criação de novos valores e de uma comunidade “eco-social” para uma vida e um ambiente melhores.