Aldeia para criar crianças…e pais
Ouço dizer muito por aí que é preciso uma aldeia para criar uma criança. E parece até uma moda, uma frase de influencer porque, de um momento para o outro, a frase está em todo o lado. Não vou discordar, a frase está na moda. O que não está na moda é a verdade da frase.
Antigamente (e hoje em dia, em algumas comunidades), este provérbio era literal. A criança era, efectivamente, criada pela aldeia inteira, não havia a ideia de centralizar na mãe e no pai a educação daquela criança. No entanto, na sociedade em que vivemos, é sobre os pais que caem todas as tarefas e responsabilidades. Em muitos casos, nem os avós são um apoio válido, porque ainda trabalham, porque vivem longe, porque já morreram, etc.
“É preciso uma aldeia para criar uma criança.” — Provérbio Africano
No momento em que sabemos que estamos à espera de uma bebé, começamos a construir uma aldeia. Por vezes até antes, na fase do planeamento da gravidez. Mas é curioso como temos uma percepção tão pouco clara de que essa aldeia (adaptada ao século XXI) se está a compôr. Pesquisamos tudo na internet, começamos a seguir uma série de perfis no Instagram e no Facebook, lemos livros, falamos com família, amigos, profissionais de saúde… Aos poucos, a aldeia vai ganhando forma.
Porém, por qualquer razão, somos levados a acreditar que estamos sozinhos na tarefa de criar aquela criança. Nós, mães, sentimos ainda mais este peso — felizmente é algo que tem vindo a mudar mas há ainda um longo percurso pela frente. Claro que a escolha de ter aquele filho foi feita em casal (na maioria dos casos), mas isso não tem de ser sinónimo de uma aparente travessia do deserto.
Em todo o mundo, a cada segundo, há alguém a passar exatamente pelo mesmo problema que nós.
Ainda na maternidade, no quarto grande e frio onde passamos as primeiras noites, contamos com o calor dos profissionais de saúde que, ao toque de uma campainha, nos sossegam a alma até nas dúvidas mais tontas (já cá volto). Chega até a parecer fácil, com tanta ajuda!
Mas chegada a casa, lá está ela: a mulher que há dois dias era só filha e que agora também é mãe. A mulher que está a conhecer o seu novo bebé enquanto se descobre a si própria como mãe. Muitas vezes sem o apoio de um(a) companheiro(a). Onde é que está aquela ajuda toda da maternidade? Porque é que de repente tudo parece tão difícil?
É aqui que entra a aldeia. E é aqui que percebemos que nenhuma dúvida é tonta. Quando começamos a conversar com outras mães, outras famílias, percebemos que estamos todos a caminhar no mesmo deserto.
E aqui tenho de dar alguns créditos à internet. É uma óptima janela para o mundo. Ou, diria melhor: uma janela para dentro da casa de outras famílias. Através de podcasts como a Tenda Materna, perfis de Instagram como o da nutricionista Ana Rachid, blogs como este da Marcolandia ou grupos de WhatsApp partilhados entre mães, etc., temos a oportunidade de sair da nossa esfera mais próxima e contactar com visões muito diferentes das nossas.
As minhas dúvidas são as dúvidas de tantas outras mães e pais.
Por isso, este passou a ser o meu conselho preferido para a parentalidade. Façam a vossa aldeia e peçam ajuda sempre. Sem vergonhas nem medos. Até nas mais pequenas coisas, troquem ideias, comentem a vossa dúvida, expressem o que vos aflige, porque a probabilidade de outro alguém ter passado por uma situação semelhante é elevada.
A partilha é muito importante e, mesmo que não concordem com tudo o que vos for dito, fica feita uma espécie de “compilação de sugestões” e mais facilmente chegarão à solução que melhor se vai adequar à vossa família. Não há uma receita universal para educar uma criança; cada caso é um caso.
E até diria mais! Se é preciso uma aldeia para criar uma criança, porque não dizer também que é preciso uma aldeia para criar uma mãe (ou um pai)?
Artigo escrito pela mãe da Teresa, Vanessa.